Separação e a retomada da própria identidade

Muito se fala sobre separações entre pares amorosos. O assunto fica ainda mais tenso quando se trata de separação em um “casamento” onde há filhos, bens, famílias e até mesmo dívidas.

Para ambos os envolvidos, há sofrimento. De formas diferentes, pois é justamente o fato de não serem iguais e não estarem em sintonia como casal que possibilita o rompimento.

Convido a ampliarmos o olhar para um processo de separação.

A princípio, uma separação se resume grosseiramente a um rompimento do estar junto emocionalmente e fisicamente com o outro.

No entanto, um processo de rompimento pode ser um convite a uma separação saudável entre quem sou, o que eu quero e quem é esse outro e o que ele quer.

É muito comum, em um relacionamento, ver pessoas passarem anos sabendo os gostos e preferências do par amoroso, e não saber ao certo sobre as suas próprias preferências.

Muitas vezes, quando um dos pares começa a dar indícios de um possível rompimento, é comum que abra espaço para inúmeros sentimentos, entre eles ressentimento, culpa, raiva, desamparo, tristeza, frustração, medo, entre tantos outros.

Ambos estão em um processo de transição. E como a maioria das transições, a experiência é diferente para ambos os parceiros, não só porque têm personalidades diferentes, mas porque, mesmo nas melhores circunstâncias, uma pessoa está mais decidida a partir e a outra mais disposta a resolver o problema.

A identidade do casal começa a se desfazer para dar espaço para a retomada da própria identidade.

Aprendemos que é um ato altruísta pensar primeiro no semelhante e depois em si.

No entanto, essa forma de se movimentar na vida, acreditando que ao se preocupar primeiro com o outro trará a garantia de devolução do investimento emocional, pode gerar grande frustração e amargura dentro de um casamento e colaborar para o fim do mesmo.

É necessário primeiro conhecer a si mesmo, sabendo o que é importante, com quais valores me identifico, quais são as minhas necessidades, o que desejo, quais são as minhas preferências e o que faz sentido para mim.

Sem isso, corre-se o risco de passar uma vida inteira culpando o par ou outras pessoas por não receber o que precisa.

Descobrir sobre si mesmo pode trazer potência de vida, autonomia e discernimento para atravessar qualquer situação, incluindo um processo de separação e a retomada de uma nova fase.

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